Perda auditiva e demências, como o mal de Alzheimer.

Que relação há afinal entre esses dois tipos de problemas que aparecem com o envelhecimento? 

Por Patrícia Di Risio, fonoaudióloga e gerente de Planejamento da Microsom

Mais uma vez a Microsom marcou presença no Encontro Internacional de Próteses Auditivas (EIPA), que reúne uma vez por ano os mais renomados profissionais da saúde auditiva para aulas, palestras e troca de conhecimentos e experiências sobre os mais recentes achados e estudos científicos da área. E, nesta edição do evento, um dos assuntos mais abordados foi a relação entre a perda auditiva e o desenvolvimento da demência em idosos.

O Estudo Longitudinal do Envelhecimento, da Johns Hopkins School of Medicine de Baltimore (EUA), por exemplo, apresentado durante uma aula no EIPA, mostrou que a diminuição na audição está sim associada a diversos tipos de demência. Voluntários com idades entre 36 e 90 anos, e inicialmente sem diagnóstico da doença, foram acompanhados durante quase 12 anos e submetidos a exames audiométricos.

Ao final desse período, os pesquisadores identificaram 58 casos de demência, 37 deles pelo mal de Alzheimer. Em todos eles, observou-se uma incidência maior de demência entre pacientes com perdas auditivas, especialmente entre aqueles com perdas consideradas graves. Nesse levantamento de Baltimore, não é possível saber se a diminuição na audição é apenas um marcador do estágio inicial da doença ou realmente um fator de agravamento dessa condição.

Outros estudos e especialistas, porém, já até apontam os cuidados com a saúde auditiva como um possível caminho para retardar todo o processo que leva à demência.

Em artigo publicado pelo Instituto do Cérebro, da Universidade de Queensland da Austrália, e baseado também em informações de um grande compilado sobre o assunto divulgado na revista científica inglesa The Lancet, a perda auditiva está na lista dos fatores de riscos modificáveis – ou seja, que podem ser controlados na tentativa de prevenção das demências.

De acordo com o texto, “a idade é o maior fator de risco para o desenvolvimento de demência. Infelizmente, assim como nossos genes, não podemos fazer nada para superar o envelhecimento. No entanto, existem fatores ambientais que parecem influenciar essa probabilidade e representam cerca de um terço do risco global de desenvolver a doença. Há algumas evidências que sugerem que podemos tomar medidas para diminuir o impacto desses fatores”.

O que a prática ensina

Independentemente do apoio científico que temos hoje para justificar ainda mais a importância do diagnóstico precoce da perda auditiva e do uso do aparelho auditivo como tratamento ideal, as consequências e as vantagens desses cuidados para a qualidade de vida do paciente já são muito conhecidas na prática. E, ao relembrá-los, fica fácil entender que incentivar a manutenção da saúde e o bom funcionamento dos ouvidos pode ser uma poderosa arma para retardar ao máximo a chegada dos danos causados por qualquer tipo de demência.

Ouvir é uma forma de exercitar os neurônios. O som chega aos ouvidos, mas só conseguimos interpretar e responder corretamente ao que é dito quando o nosso cérebro entra em ação. Se essa atividade não é feita mais como era, desaprendemos a conversar, a nos expressar e, consequentemente, a registrar aprendizados e memórias.

É por isso que o isolamento social, a baixa autoestima, as crises de ansiedade e a depressão são problemas que costumam acompanhar as dificuldades de audição.

Deixar de ouvir é apenas a primeira consequência. O que vem junto, caso não haja um tratamento adequado, pode causar um grande impacto negativo no bem-estar físico e emocional de qualquer pessoa. Imagine então quando há uma predisposição a demências.  Incluir no check-up geral da saúde a avaliação auditiva, portanto, está longe de ser um exagero. Como já vimos, pode ser uma maneira de afastar ou de reduzir o impacto de doenças graves e bastante comuns na velhice, como o mal de Alzheimer.

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